domingo, 7 de junho de 2009

20 anos sem Nara Leão





"Os militares podem entender de canhão e metralhadora, mas não pescam nada de política". Foi com essa frase dita no conturbado show Opinião que Nara Leão alcançou o sucesso e a popularidade no mundo da música. Ela foi, talvez, a primeira cantora a incorporar ao seu canto, um repertório de convocação política à resistência democrática recém iniciada no Brasil, alguns meses depois do golpe.

Bela e forte- Nara carregou por anos o rótulo de musa da bossa nova. O biógrafo Cabral acredita que num primeiro momento a cantora não passasse de um mascote do movimento. Foi quando, ainda adolescente, passou a reunir em seu apartamento a nata daquela geração, Roberto Menescal, Carlos Lyra, Sérgio Mendes e Ronaldo Bôscoli, entre outros, em torno de longas noites de voz, violão e bossa. "No começo o pessoal não acreditava muito nela, e ela própria tinha dúvidas sobre isso", aponta o escritor.
A dona de voz suave e discreta mas que fez mais barulho do que todos os outros integrantes da bossa nova, ao se aproximar do samba, nadou contra a maré e se engajou na luta por justiça social, tendo como principal arma, a música. Depois do golpe militar, Nara troca farpas com os militares, chegando quase a ser enquadrada na lei de segurança Nacional. Porque quando o assunto era oposição, não se tratava de eufemismos. Um dos ápices da biografia de Nara Leão veio quando em uma entrevista ela defendeu a saída dos militares do poder e para colocar mais pólvora na fogueira pediu a extinção das Forças Armadas no Brasil.
Tamanhos feitos renderam uma séria ameaça de prisão à cantora. Ela foi perseguida a ponto de fazer com que dezenas de intelectuais brasileiros fossem em procissão para sua casa, lhe prestar apoio. O poeta Carlos Drummond de Andrade foi ainda mais longe. Ele escreveu uma carta em forma de poema endereçado ao presidente, o Marechal Castelo Branco.
Nara Leão morreu na manhã de 7 de junho de 1989 vítima de um tumor inoperável aos 47 anos de idade. Seu último disco foi My foolish heart em que interpretava versões de clássicos americanos. O poeta Ferreira Gullar escreveu: "Sua voz quando ela canta, me lembra um pássaro mas não um pássaro cantando: lembra um pássaro voando".

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